quinta-feira, outubro 22, 2009

notas sobre Docliosboa 2009 até agora

Está difícl conseguir tempo pra escrever aqui, com sessões começando às 11h da manhã e outras acabando 1h da manhã, mais o jantar, e uma cidade encantadora a conhecer, e um caderninho que só incha de anotações...
Vou deixar aqui anotadas as rapidíssimas impressões do que já vi, talvez desdobrem em textos maiores, talvez não:

de Jonas Mekas
36´ / 24' / 35' / 35' (135) EUA 1990/ 1996/ 1999 / 1992


Funcionam muito bem como um filme só. POnto pra curadoria. Provavelmente, algumas das maiores crônicas sobre a amizade já feitas. Com destaque inegável para o primeiro e o último filme, apesar da grande fala do John Lennon no do meio, que já tentou fazer filmes em super8, mas aquilo era muito mais legal de filmar do que assistir. 
Notas: 10/8/7/10


sábado, outubro 17, 2009

Mekas 1


The Brig
de Jonas Mekas
68´ EUA 1964

The Brig precede o transformação dos rolos cotidianos de bolex 16mm em filme e sucede o primeiro longa de Mekas, Guns of the Trees. E seu filme que tem o prêmio mais importante até hoje, melhor documentário em Veneza em 1964.
Trata-se da transformação em filme de uma encenação do Living Theatre feita numa locação, num espaço real, fora de um palco. Durante sessenta minutos, o filme se desenvolve numa sala quadrada com uma grande grade central, onde ficam os prisioneiros, com uma porta em cada lado desta grade. A câmera se move por dentro da grade e pelo corredor que a circunda pela frente e pelas laterais. A peça mostra um dia, marcado por cartelas com as horas e que dividem os segmentos, nesta prisão onde fuzileiros navais americanos humilham e exercitam sua autoridade perante estes prisioneiros num espaço exíguo. Esta exiguidade é essencial porque o que importa aqui a Mekas, que estava sozinho no set, trocando de câmera a cada fim de chassi, é este personagem-câmera, é como participar desta ação, que mise-én-scene criar.
Prólogo: ao decidir que faria esta parceria com o Living Theatre, Mekas vai ao teatro para assistir a peça (ela ficou em cartaz durante algum tempo, mas foi tirada de cartaz por suposto anti-patriotismo. A encenação para o filme foi clandestina) e após 8 minutos, segundo ele durante a apresentação do filme, vai embora. No decorrer do filme percebe-se facilmente a principal questão de The Brig: como filmar o controle, como filmar a disciplina e a rigidez levada ao paroxismo? Com um trabalho de câmera que priorize o acaso, que se realize no contato com presente (como todo o trabalho de Mekas). Um refrão do filme é o pedido dos prisioneiros aos guardas para que possam atravessar as linhas brancas que dividem o corredor que envolve a grande cela. Os guardas pedem sempre que eles repitam ad infinitum “ senhor, prisioneiro número ... pede permissão para cruzar a linha, senhor “. O cinema de Mekas é aquele que não é subjugado e nem subjuga. É o cinema interessado no presente, em reagir e interagir com ele, seja o que for.
Se pode surpreender que Mekas tenha escolhido um tipo de encenação que coloca aos nossos olhos cenas de violência e humilhação totalmente atípicas dentro de sua obra, mesmo quando trata da morte ou de qualquer tipo de tema um pouco mais grave, a razão para tal logo se percebe. O jogo que esta encenção propõe deu a Mekas a chance de exercitar a característica que vai definir o eixo principal de sua obra: a capacidade de reagir ao presente, de tornar a câmera um instrumento de contato, de afetação. The Brig é um exercício sobre ser afetado. Toda peça versa sobre isso. Sobre o preso que sucumbe, apanha e vai pra solitário, o outro que tem que aprender os modos do lugar, curiosamente próximo de Tropa de Elite, por exemplo (outa referência é Bom Trabalho de Claire Denis, pela aproximação entre exército e dança). Mas a encenação de Mekas não busca o efeito, nunca se vê a câmera tremer sem um motivo que emane da tela.
Curiosamente a mise-én-scene de Mekas, aliada ao registro crescente em intensidade da interpretação dos atores leva a um interessante misto de distância e envolvimento. Ao mesmo tempo que temos uma câmera misturada ä realidade da encenação, feita initerruptamente, segundo Mekas, as constantes sombras do câmera nos colocam num lugar de intermédio em relação ao filme.
Mesmo jogando fora-de-casa, Jonas Mekas consegue tornar The Brig um interessante exercício de cinema, complexificando a trama entre realismo e artifício já presente na encenação do Living Theatre, respondendo que o que cinema pode fazer contra aquilo é tornar imagem a liberdade de vir e a possibilidade ser afetado, de se misturar ao outro, por fora dos códigos estabelecidos, crinado assim novos espaços, a serem visitados por nóes, espectadores.

7/10

sexta-feira, outubro 16, 2009

DocLisboa (começando um pouco mal)

Pretendo nos próximos dias postar algumas impressões das coisas assistidas aqui em Lisboa, no DocLisboa 2009.
A prioridade será pra retrospectiva do Mekas, mas vai rolar de ver algumas cositas más.


The Thorn in the Heart / L'epine dans le coeur ( France / 2009 / 82 Min / Color / French ) de Michel Gondry, 2009

3/10

Gondry decide fazer um documentário sobre sua tia. E consegue fazer um certo inventário do que evitar num documentário sobre sua família. Zoom no choro, sobre som toda hora em que alguém diz uma frase de efeito tipo "eu me sinto culpado da morte de meu pai", música retrô quando rolam imagens em super 8 e maquetes de trenzinhos costurando o filme, dando as datas do que é narrado pela tia Suzette. Todo mundo tem um familiar que alguma vez já se pensou em que "sua história daria um filme" . Gondry foi ao interior da França atrás da sua tia professora, e se mostrou totalmente constrangido, como personagem e diretor, diante desta situação de descontrole e atenção que um documentário como este lhe exigiria. Um filme de sentidos já prontos, brincadeiras que só existem pelo efeito, onde nenhuma imagem ou som escapa de uma vontade de ser engraçadinho e bacana (várias risadas na platéia), entremeada por doses de vontade de ser "seriozinho", tipo colocando em jogo a personalidade dominadora de Suzette em relação ao seu filho deprimido. Numa cena do tipo, assim que ela profere o nome do filme, referindo ao filho, sobe som, fecha câmera no choro da senhora. É um filme com cumpre toda tabela estabelecida pra este tipo de doc. A equipe aparece, há piadinhas mil com isso, tipo "tira o boom da imagem!" (levando o cinema às já citadas risadas).
Enfim, um prato cheio para detratores do Gondry.


(o melhor momento de cinema ontem certamente foi a volta pra casa, inevitavelmente pensando em João César Monteiro. Estou hospedado ao lado da casa amarela. Lisboa é realmente deslumbrante. Hoje tem curta do apichatpong e 2 mekas. Here we go.)