sábado, agosto 25, 2007

ben simples



Acho que tinha uns 16 anos. Já não ouvia mais meus seminais Guns ou Faith no More. Do grunge só sobrou Pearl Jam no coração. Biohazard e Body Count (e Judgement Night) levaram a Beastie Boys, que por sua vez, já tinham abrido minha cabeça em direção ao tamanho que o mundo podia ter. Lá em casa sempre rolou Caetano, Gil e afins. Desde que me entendo por gente. Mas até então nunca tinha entrado de cabeça nessa. (Apesar do Jokerman do Caetano no Circuladô e apesar desse show, que foi a primeira vez que fui no Canecão e vi um show e senti que aquilo era pra mim).

Minha mãe trouxe pra mim um cd. Ela veio de São Paulo. Cd com capa de cd velho - isso já naquela época. Meio feio, meio mal cuidado, com um malandro de boina, ajeitando ela, se achando. Vinil copiado pra cd, som chapado, sem nenhum cuidado mesmo. Chamava "O Bidu - Silêncio no Brooklyn". Aquilo mudou a minha vida.

É o quinto disco do Jorge Ben. Saí catando as coisas antigas dele - por acaso, naquele momento saiam na coleção Samba&Soul, o três primeiros dele - e o negócio não parou até hoje. Pra mim é o maior artista brasileiro. Acho que ele realizou sem aparentar esforço tudo o que os modernos queriam. E a fusão do Ben não parece mistura, tudo parece que nasceu daquele jeito.

De alguma forma, é o sucessor da linha suprema do música popular daqui, depois do Dorival e do João, a tocha volta pro Rio. Colhendo as conquistas desses anteriores mas sem reverência.

Depois de três discos de samba jazz (Samba Esquema Novo, Ben é Samba Bom, Sacudindo Ben Samba) com o genial Meirelles e os Copa 5, Jorge grava Big Ben em 65. Um disco mais solto porém ainda bastante ligado aos arranjos e sonoridades dos outros três, porém algo destoa completamente: O Homem que Matou o Homem que Matou o Homem Mau. Um rock a la anos 50, em resposta ao Homem Mau do Rei Roberto. O canal do rock só ia alargar nos próximos anos na obra do copacabanense. Mas talvez essa faixa do Big Ben seja o único rock "puro" - apesar da levada sincopada da batera - da fase pré-Benjor.

E aí, ele se muda pra São Paulo, um pouco sem lugar por aqui, sem reconhecimento, muito por causa da sua principal riqueza: não se sabe em que caixa botar esse negócio negócio. Samba não era, Jovem Guarda também não, Bossa Nova muito menos. E do encontro de um dos mais representativos cariocas de todos os tempos com São Paulo nasce a pérola que é o centro deste post. (Não por acaso a Tropicália teve de ir a São Paulo pra nascer.)

Acompanhado dos Golden Boys, com sua instrumentação rock, o homem pega a guitarra
e ali toma forma sua música. Falar que é samba-rock é muito redutor. São canções festeiras, brejeiras, carnavalescas, canções de amor, simples, que não distinguem os lá-lás dos proparoxítonos. Depois de passar três discos fazendo um pouco de esforço pra falar "voxê" - Xuxa nunca inventa nada - O Ben não deixa mais nada parecer artificial, a sua arte encontra seu lugar e sua forma. Simplicidade inimitável, o hits-chiclete que todo mundo sabe cantar pelo menos .... por baixo, cinco.

O digestão do rock em sua obra me parece que atinge seu ponto máximo no África Brasil de 76. Mas o Bidu tem um charme especial. É o turning point que vai dar dois anos depois em País Tropical e no desfile de hinos que ele passa a compor nesses 10 anos que se seguem. Jorge 63-76 não compete com nada mais na música brasileira, nenhuma obra produziu algo tão definitivo e atemporal. Inesgotável.

Esse é um post-homenagem, feito com sono e depois de duas tentativas frustradas - sempre que venta falta energia por aqui. Não agüentava mais a escrever posts mentais. Agora foi. O desejo é a assiduidade. Vamos ver.

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Eu ainda não vi" O Mundo", mas o "Still Life" me deu uma aula sobre realismo e sobre história que tô bobo até agora. Logo, também, de política. Viva o cinema.

Acho que 2007 já tá bem barbada. Apesar de parecer um ano de bons filmes não vejo nada na frente. Mas vou conferir, de coração aberto. Até agora: Maria, Coeurs, Santiago, Maria Antonieta, Conquista da Honra, Iwo Jima, Zodíaco e alguns outros que agora não lembro. Ou não.

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momento da semana: ouvindo "she´s leaving home" esperando o 157 cheio numa tarde ensolarada primaveril.