quarta-feira, outubro 08, 2008

Resposta



Então, Luiz:
tava pensando em escrever rapidamente sobre o assunto e me deste a deixa.
Cada vez venho pensando mais sobre isto que se convém chamar de cinefilia e da minha inabilidade para tal. No festival do Rio, indisponibilidade, pra ser mais exato. Sinto que por um lado nem sinto falta de ver filmes que acharia "bons filmes", e por outro lado, que me fecho numa certa cartilha estética cômoda, tipo "só vejo o que me interessa". Como será que a gente sabe a priori o que nos interessa? Vou na bengala da intuição combinada com disponibilidade pragmática, o que sobra do tempo das obrigações digamos "exteriores".

Dentro deste grupo restrito, ficou comigo " A Viagem do Balão Vermelho" e "Aquele querido mês de agosto", junto com "Praça Saens Pena" e "Noite e Dia". cada um no seu lugar. O filme do Hou é muito impressionante, tendo esse adjetivo quase todos seus sentidos possíveis. Me parece muito difícil e muito arriscado fazer o que ele conseguiu. Um filme muito frágil. Que parece pronto a desfacelar. Uma espécie de cinema-pipa, que precisa da quantidade de vento exata pra se embalar. Um filme pra ver sempre, enquanto houver vento. Só cresceu na revisão. Quanto mais leve estiver para assistí-lo, mais livre e despreocupado, melhor. É muito interessante perceber como o cinema dele sente o cheiro da abstração, ou o aroma da narração e vai pairando na sua corrente própria e plural. É um cinema meio tudo ou nada. Que tem sua delícia neste risco de passar batido e aí sua política.

O filme português é de outra vibração. É um filme que quer tudo, quer todos, e que não podia ser feito por gente experiente e apurada (no sentido do Hou, de quem se arrisca muito, mas que já conhece alguns caminhos), é um filme encantado com o mundo e com o fazer cinema, numa espécie de fagocitação contínua que tem auges de extrema beleza, como na cena do choro-riso. Dá muita vontade de rever. E dá muita vontade de filmar, transparece maravilhamento com o mundo e com os amigos. Dá vontade de mobilizar a "galera". Isso é muito prum filme. Foi uma sessão memorável.

O "Praça Saens Pena" ontem me comoveu bastante. Deu vontade de ligar pra alguém querido. Acho que o filme acerta onde o cinema-Petrobras aqui do Brasa tem errado muito. É lindo o que ele omite. Muito do seu valor acaba sendo negativo em relação ao cinema brasileiro do seu tempo. Não tem sociologia barata. Não tem "Passei uma semana em Paris assistindo Jia Zhang-Ke". Acho um filme muito preciso sem deixar de omitir os dados brabeira do cotidiano carioca. É lindo ver um filme onde ninguém é boneco. Tá virando raridade por nossas bandas.

O "Noite e Dia" carece de revsião., Ainda que não me arrebate como Turning Gate, há uma série de elementos que estão martelando minha cabeça até agora. Tenho a impressão de que ele está se deixando mais. A estrutura do calendário e o aumento da comédia corporal tornaram o filme leve de assistir. E o carisma do protagonista bateu recordes. E muito bacana o pessimismo pastelão (e daí otimismo do coreano).
Dos documentários lá pro DocBlog, ficou só a força do funk que "Favela on Blast" se permitiu mostrar. Isso é um mérito grande. O filme dá vontade de dançar. Escrevi um texto lá onde falo disso melhor.
Vejo o Aoyama hoje, Sad Vacation.
Um abraço saudoso,
Juliano

segunda-feira, outubro 06, 2008