sábado, outubro 20, 2007

Primeiras notas sobre o Festival do Rio

Vi poucos filmes no Festival do Rio. Mas lamentar mesmo, só lamento o Tsai e o "I´m not there", e a falta de surpresas. Vou despejar algumas impressões, pra relaxar destes dias em que tenho escrito coisas não tão agradáveis para fins escusos.

Faço agora o que não faço em geral em outras partes da minha vida: começo pelo melhor: "Síndromes e um Século". Primeiro, como um filme pode se chamar assim? Como pode ser a experiência modificadora e inesgotável que ele é.

Pra quê servem os filmes? Vendo Ozu, tenho a mesma sensação que tive com esse Apichatpong. Não penso no cinema. Estes filmes me jogam violentamente pra vida, aponta pra ela, a ressignificam. O cinema é pequeno porque a viver é grande. O cinema é grande porque a vida é pequena. O cinema como duplo, como reitereção, como o mesmo, repetido porém modificado, como segunda presença, como dois pontos paralelos em uma espiral, nos círculos claro e escuro de um eclipse. O número é sempre dois, o Apicha faz os pares dançarem na cabeça da gente, não deixando parar nada quieto, nenhuma conclusão, tese, ou diretriz. Deixa uma crença na vida, no desconcerto natural das coisas, no ritmo oculto do mundo que se apresenta num sorriso. Definitivamente Síndromes não me leva pro cinema, mas definitivamente, saio da sala uma pessoa muito melhor - apesar de não saber como, sinto.

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O filme da Kawase demorei pra digerir. Porque é um filme sem curva, seu extra-campo é muito pesado, carrega todo o sofrimento do mundo. É um filme fora-do-mundo. Sobre a presença da morte no mundo dos vivos. É uma dança da morte, a procura dela no mundo dos vivos. a dimensão do filme parece a interseção entre os dois mundos. Aí ele faz mais sentidos. Mas ele precisa dessa pressão do "fora"pra se intensificar, pra acontecer. Bom filme.

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Paranoid Park é meu vice. Filme de skate. É muito gostoso assistir certas imagens do Van Sant/Doyle. Paranoid torna isso divertido. Parece um filme mais maduro, menos encantado com o dispositivo - acho que foi o Fábio que notou isso. Divertir-se é um sinal de maturidade, um passo importante na política do Gus. O Fellini em si é que eu não encaixei ainda, mas vou ver de novo, nem que seja no emule. Grande filme. De longe o que ele conseguiu dar a melhor presença a esse "ser jovem" (até que o duplo sentido por acaso ficou bom).