quinta-feira, setembro 06, 2007

Olhar pra fora





Eu fiz três habilitações dentro do curso de Comunicação Social. Na ordem: Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Cinema. Desde que entrei, ouvia-se falar que ia ter curso de cinema. Isso foi em 2000. Entrei pelo Enem. Não fiz vestibular.

Escolhi PeP por que achava que tinha facilidade com as palavras e que podia ganhar grana com criatividade. Um pouco desiludido com meus colegas e pensando em ampliar meus horizontes e possibilidades pós-Puc, fui fazendo, como eletivas, as matérias de Jornalismo. Cumpri os créditos do jornalismo em um ano. Os dois cursos me ensinaram. Os anos de faculdade, não exatamente as aulas específicas com essas ênfases, me ensinaram.

Pra você se formar tens que fazer um negócio chamado Projeto Experimental. Fiz três. Na PeP , fiz um documentário: Largo da Memória. No de jornalismo, fiz outro: Maneco. Em 2005, comecei a habilitação de cinema lá. Primeira turma. A gente fazia aula de direção com o Eduardo Escorel. Numa aula, o Chico Vereza sugeriu que fizéssemos um exercício prático baseado no filme que tínhamos acabado de ver em em aula, "As 5 obstruções". O filme traz 4 versões de um curta, feitas pelo mesmo diretor do curta original ("The perfect human" do Jorgen Leth"), seguindo restrições dadas por seu admirador Lars von Trier - que dirige o curta final.

Faltava então, a idéia do curta original. Me candidatei na aula seguinte. Tinha um texto que escrevi meio que sem propósito, sobre um rapaz à espera de um telefonema dentro de um quarto, que achei que dava pé. Ninguém apareceu com algo melhor e que fosse tão simples de fazer: um ator e uma locação.

Fizemos, durante um sábado, acho que começamos a gravar umas 9, 10 da manhã e acabamos tipo 14h, acho. Gastamos uma fita miniDV, uma hora de bruto - na verdade, gravei mais uns minutos, num outro dia, só de som, com as falas do Thiago (meu amigo e estreante nas telas, se não me engano). Lembro que cheguei de manhã, no apê, em Sta. Teresa, sábado de sol, caminhando sozinho até lá. Não saltei perto. Caminhei mais de 10 minutos, sob o silênci das 7 da manhã. É umas das melhores lembranças que tenho, esse pré-gravação. Era a primeira vez que exercitaria ficção em filme. Estava ansioso. Tinha desenhado planos no papel, feito uma decupagem, que a Anita, que foi uma assistente nota 10, ajeitou e tirou os 200 planos iguais que eu tinha posto na lista.

Fiquei lá no quarto alguns bons minutos. A casa, vazia. O povo começou a chegar, e fizemos. Dirigimos eu e o Chico Vereza, autor da iniciativa. Acho que foi bacana. Fiquei satisfeito. Editamos em dois dias, duas noites curtas. Não gosto de alguns momentos da edição. Mas gosto de alguns quadros, e de algumas partes, de alguns ritmos. Também de algumas idéias do roteiro, de como o ciclo se desenha, com a água, de como tematiza o dentro e o fora, o contato, da obviedade do quadro com o espelho, da textura do taco - o Brunele é o grande responsável pelo visual do filme. Mas o que gosto mais é que esteja feito. Fazer coisa é ir pra fora, as coisas não vivem dentro da gente. Realizar é criar um terceiro. É por isso que escrevo aqui.

Apresentar pra turma foi ótimo - lá fiquei realmente ansioso. As pessoas fizeram as versões depois, pena que a gente nunca juntou. Eu e o Chico fomos atores em uma delas, dirigida pelo Fábio e pelo Mikair. A experiência de fazer o filme foi muito legal, o ambiente foi bacana. Lembro de conversar com o Thiago, com o Brunele. Foi muito gostoso. É bom atualizar estas memórias.

Vai ser legal ficar velho e assitir este negócio. Por causa dele, fiz minha primeira ida a um festival concorrendo com filme, em Arraial d'Ajuda. Fazer é muito importante mesmo. Com rigor, de preferência - e o Janela certamente não é um exemplo disso.


***

Possuídos é mesmo um ótimo filme, Fabão. Tá na metade de cima da lista.

***

Momento da semana: Kid Morengueira na bicicleta ergométrica