terça-feira, janeiro 12, 2010

rascunho datado de agosto de 2009



Eu não conheço nada de Tchekov. Não sei se Moscou tem a ver com Tchekhov, se entende bem sua obra. O negócio é que desde que vi o filme em março, eu não largo dele. Não lembro de um filme brasileiro que tenha ressoado tanto em mim. Com os filmes do Coutinho, que gosto muito, nunca tinha acontecido algo deste tamanho.

Moscou fala de cinema. É um filme de pergunta, o que é o cinema, até onde ele vai, do que ele precisa, onde começa o teatro, qual é a interseção entre os dois. O filme começa com o o cinema sendo demolido. Nada mais oportuno, sinto que é justamente isso do que se trata: demolição. É um filme que dialoga com o nada, com um buraco negro, um filme de risco, de beira de abismo de abismo, que está a uma fagulha de não ser nada, de mostrar um bando de atores exagerados falando uns textos sem graça para a câmera. Esse desejo de sair do cinema já é algo que aparece na obra do Coutinho há bastante tempo, de várias formas, desde o Cabra, à cada filme, joga mais coisa fora, depurando e chegando no filme anterior, no teatro. Mas no Jogo há cena onde nos instalamos, há um terreno se demarca.

Nas famosas "regras do jogo" que iniciam senão todos mas a maioria da fase Videofilmes de Coutinho, sente-se aqui uma enorme diferença na sua função. Em Moscou, não adianta nada saber a proposta das 3 semanas e da não montagem. E mais, não adianta nada saber que aquilo "é teatro", e que há um texto preexistente.

Diante de Moscou sou colocado num buraco negro, onde não consigo ficar mais de um instante no mesmo. O filme se estrutura como uma espécie de centro ausente que te desloca o tempo inteiro (acho que talvez isso seja algo próximo a Tchekhov). Não se sabe de que lugar assistir Moscou: observar as performances, compará-las?

nota de 2010: é no mínimo curioso que a peça que que mais me moveu no ano passado seja dirigida pelo Enrique Diaz, que imagino que tenha uma boa parcela de culpa no Moscou

2 comentários:

Luisa Coser disse...

o cidadela é um livro da vida, para se ler durante toda a vida eu acho. tenho essa impressão. achei num sebo aí no rio, não me lembro mais como. e avanço pouco a pouco. vale muito a pena. e eu fico com vontade ver tudo q vc de-monstra aqui. fodaço teu presente pelo suave (e desculpa cita-lo aqui mas aproveito a inserção). compreendi mais o reggae e o jamesbrown. bom vou te escrever um email entào... (saudades boas).

juliano disse...

fiquei super curioso.
de repente vou comprar de aniversário.
que bom que ficas com vontade.
eu ainda estou digerindo o Benin. Mas tem coisas lindonas mesmo, né?
aguardo o email.
saudades também.